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sexta-feira, 12 de junho de 2009

APRENDENDO A APRENDER

Por que será que eles não estudam?

Sabemos uma porção de coisas: coisas que aprendemos em casa, coisas que aprendemos na rua, com nossos amigos, com nossos colegas de trabalho, e coisas que temos que aprender na escola. Há muitas coisas que não gostaríamos de saber, mas somos obrigados. Grande parte do que sabemos, não terá mais valor daqui a cinco anos. O avanço científico e tecnológico é muito rápido; as coisas que sabemos terão que ser substituídas por outras novas. Por isso, saber coisas já não é tão importante; a aprendizagem mais importante nos nossos dias é aprender a aprender.

Aprender a aprender é um processo que exige preparo; não basta construir conceitos e utilizá-los através de diferentes habilidades. O conhecimento das informações ou dos dados isolados não é suficiente; é preciso situá-los em seu contexto para que adquiram sentido. Vivemos em uma sociedade em que somos constantemente bombardeados de informações através dos diversos meios de comunicação. É necessário que saibamos organizar e selecionar as informações mais importantes, e tenhamos condições de saber utilizar esses conhecimentos. Isso requer a assimilação de uma série de estratégias.

Assim, aprender a aprender seria o procedimento pessoal mais adequado para adquirir um conhecimento.

"Aprender a aprender é mais ou menos como se preparar para uma grande jornada ciclística. Antes de pegarmos a bicicleta é necessário um cuidadoso preparo físico, que vai do alongamento à ginástica, e cuidados com a alimentação, que vai, pouco a pouco, habituando nosso corpo aos desafios da jornada." (Antunes, 1996)

Todo professor, de qualquer nível, já fez a queixa: "Os estudantes não querem estudar". Talvez a queixa devesse ser colocada assim: "A maioria dos estudantes não aprende determinados conteúdos porque desconhecem as estratégias de aprendizagem", ou seja, não estudam porque não sabem fazê-lo. Provavelmente as estratégias não foram ensinadas para eles, de modo que quando vão enfrentar uma tarefa nova, têm uma enorme dificuldade de cumpri-la, gastando mais tempo e despendendo mais esforços. Muitas vezes esses estudantes (e até mesmo os professores) não têm consciência que a raiz problema está na utilização de estratégias inadequadas, e atribuem essa dificuldade à falta de inteligência. Quando não conseguem os resultados esperados, ou quando se esforçam sem atingir os objetivos propostos, se sentem vencidos e, na maioria das vezes desistem convencidos de sua incapacidade.

Muitos estudantes têm grande potencial de aprendizagem, mas o desperdiça por falha no método de estudo ou por preguiça de estudar. Já outros menos dotados, obtêm maior sucesso porque se empenham com mais afinco ao estudo, utilizando um método eficiente. Alguns se perguntam "Por que estudar? Para que estudar?" e na maioria das vezes ficam sem uma resposta satisfatória, mas, mesmo sem essa resposta, eles continuam estudando, porque são obrigados a isso. Talvez por isso, muitos estudantes não se acostumaram a estudar, e a falta do hábito foi se incorporando às gerações. E aí temos um grande problema: como nosso estudante vai aprender se não sabe estudar?
Estudar não é uma tarefa simples; exige uma organização, disciplina e senso crítico. A disciplina será adquirida com a prática do ato de estudar, daí ser difícil formar uma rotina e desenvolver o hábito. É preciso muita persistência. Ao estudarmos melhoramos nosso desempenho na vida como um todo; vamos percebendo que o estudo nos dá uma maior segurança em nosso eu, possibilitando-nos assumir nosso papel de sujeito na nossa história. Querer aprender é assumir uma atitude diante do mundo, pois quanto mais o conhecemos, maiores são as possibilidades de superar suas contradições.

A importância das Estratégias de Aprendizagem

A aprendizagem faz parte de nossa vida. O termo não se aplica apenas às aprendizagens escolares. É um fenômeno do dia-a-dia, que ocorre desde o início da vida. Aprendemos o que amar, o que temer como ser educado, e assim por diante. Qualquer atividade a ser desenvolvida prescinde de procedimentos adequados. Não podemos pensar que a aprendizagem esteja isenta desse princípio.

O principal objetivo das estratégias de aprendizagem é ensinar a pensar. O que se quer é educar o aprendiz para obter sua autonomia, independência e senso crítico.

As estratégias de aprendizagem vêm sendo definidas como seqüências de procedimentos ou atividades que se escolhem com o propósito de facilitar a aquisição, o armazenamento e/ ou a utilização da informação. Em nível mais específico, as estratégias de aprendizagem podem ser consideradas como qualquer procedimento adotado para a realização de uma determinada tarefa (Da Silva & Sá, 1997 in IESDE, 2003).

Estudos demonstram que as Estratégias de Aprendizagem desempenham um papel importante para o rendimento escolar. Uma quantidade expressiva de estudantes não sabe utilizá-las de maneira apropriada. Grande parte dos estudantes brasileiros não sabe ler, não assiste uma aula tirando o maior proveito possível dela, não sabe fazer um resumo ou fichamento de um livro. Aprender é um dever do estudante, mas é direito dele ser orientado e ajudado nesta tarefa. As Estratégias de Aprendizagem quando usadas de maneira apropriada, são de grande importância para o processo de aprendizagem.

Vemos nossos estudantes com dificuldade para responder questões interpretativas, por não terem um método eficaz de leitura; ou sem condições de resolver um problema dado, por não terem um método eficaz para a resolução do mesmo. Alguns simplesmente não entendem o que lhes é solicitado pelos professores, outros se perdem nas solicitações feitas.

Tem sido proposto e investigado um grande número de modelos experimentais de estratégias, como o treino estratégico acadêmico, aprendizagem recíproca, estratégias específicas de aprendizagem. Ainda que haja diferenças de modelos, todas convergem em dois pontos: Primeiro, há um grande número de estudantes, muitas vezes designados como "de risco", desmotivados, imaturos, com dificuldades de aprendizagem, etc. que são deficientes no uso de estratégias de aprendizagem. Estes estudantes podem-se encontrar tanto em programas de educação regular como em educação especial. Em segundo lugar, estes estudantes podem aprender estratégias de aprendizagem o que os vai ajudar a abordar as tarefas com mais eficácia e eficiência, aumentando as suas hipóteses de sucesso.

Não pretendemos supervalorizar os métodos, pois eles são apenas um instrumento de trabalho intelectual, enquanto a inteligência e a reflexão desvendam o que os fatos realmente são. Entendemos que a aprendizagem só é eficaz quando tem significado para quem aprende, quando os novos conhecimentos e informações são assimilados pessoalmente, confrontados e integrados no complexo de conhecimentos já existentes, podendo ser reutilizados em outras situações. A aprendizagem deve contribuir para a formação integral do indivíduo e de seu pleno crescimento.
Da Silva e Sá (1997, in IESDE, 2003) apontam que a instrução em estratégias de aprendizagem abre novas perspectivas para uma potencialização da aprendizagem permitindo aos estudantes ultrapassar dificuldades pessoais e ambientais de forma a conseguir obter um maior sucesso escolar.

Nossos estudantes necessitam desenvolver seu potencial sem medos ou preconceitos com o estudo; precisam despertar para a sua importância como ator de sua história e da história da humanidade, compreender que o conhecimento é uma necessidade intelectual, mas também vital. Sua participação como cidadão é proporcional à sua capacidade de, além de ter o acesso à informação, saber articulá-la e organizá-la. Portanto, ensinar estratégias de aprendizagem aos estudantes é garantir a aprendizagem: a aprendizagem eficaz, e fomentar sua independência (ensiná-lo a aprender a aprender). Por outro lado, é necessário que o estudante se dedique a estudar. O conhecimento de estratégias de aprendizagem por parte do estudante influencia diretamente no que ele sabe, pode e quer estudar.
(Retirado de artigo de E Boruchovitch - Psicologia: Reflexão e Crítica, 1999 - SciELO Brasil)

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