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sábado, 6 de junho de 2009

Relação entre Cultura, Escola e Aprendizagem.

Este texto é referente a um estudo de caso que fizemos com uma criança em idade escolar. Iniciamos discutindo o que pensamos que seja cultura, devido ao fato de que a criança escolhida e avaliada no decorrer deste relatório não nasceu no seio da cultura brasileira (mesmo sendo a família desta origem). No entanto em uma determinada fase de seu desenvolvimento, esta criança, juntamente com sua família, sai daquela cultura na qual nascera e vem para o Brasil, sendo que no processo de adaptação, esta criança começa a enfrentar problemas escolares e de aprendizagem que dificultam o processo normal de desenvolvimento intelectual. Assim, tratar-se-á neste relatório sobre as características normais do desenvolvimento de uma criança da mesma faixa etária que a criança atendida, assim como serão feitos paralelos para verificar o quanto esta criança precisa ainda se desenvolver para enfrentar suas dificuldades.

O aprender na escola cumpre importante papel no processo de desenvolvimento da criança. Uma diversidade de fatores individuais, ambientais e culturais interfere neste processo. Cada criança, normal, pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado.

O próprio comportamento depende de um aprendizado. Segundo Laraia (2004) tudo o que o homem faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de imposições originadas fora da cultura. Desta maneira, o homem vê o mundo através de sua cultura e isto tem por conseqüência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e natural. A experiência cultural traduz-se em comportamento cognitivo e em desempenho escolar. Assim, segundo Hess e Shipman (1983) a estrutura do sistema social e a estrutura da família modelam a comunicação e a linguagem, e que a linguagem, por sua vez, modela o pensamento e os estilos cognitivos de solução de problemas. Com isto, a estruturação da linguagem faz com que a criança aprenda a como aprender, estabelecendo os limites dentro dos quais a aprendizagem futura terá lugar.

Aprender a aprender é um processo gradual que caminha junto com o homem em todas as etapas do seu desenvolvimento. A aprendizagem, implica em receber, armazenar e integrar informações que poderão ser utilizadas para modificar o próprio indivíduo e seu meio (FUNAYAMA, 2000). Para haver aprendizagem adequada, pressupõem-se bases neurológicas íntegras. Para que a criança assimile o novo, é preciso assistência preventiva contínua às suas necessidades arcaicas como comida, higiene, agasalho, carinho, respeito por suas limitações, valorização de suas capacidades (FUNAYAMA, 2000).

Pelegrini e Golfeto (apud FUNAYAMA, 2000), afirmam que no processo proposto as crianças para aprenderem a ler, soletrar e a realizar cálculos numéricos, tanto a escola quanto a família devem apresentar tais atividades para a criança. E que também neste sentido, os países variam amplamente com relação à idade na qual se inicia o ensino formal, ao programa seguido dentro das escolas e, por isso, às habilidades que se espera que as crianças adquiram em diferentes idades.

Assim, a capacidade de aprender na escola expressa mais do que uma adequação a uma situação específica, fornecendo indicadores dos recursos e limites da criança para lidar com as situações da vida. Segundo Loureiro (2000), considerar as dimensões envolvidas com a aprendizagem, é importante para avaliar as condições que favorecem ou perpetuam a dificuldade e também, entender as condições pessoais de interação com o meio, compreendendo a manutenção e transformação da própria identidade assim como as diferenças culturais influenciam e dão significado ao saber.

Se existe relação entre cultura e aprendizagem, então cada país deveria favorecem para que os programas de ensino pudessem ser planejados levando-se em conta a idade dos alunos, seu nível de maturidade intelectual, seus interesses e, seus antecedentes sociais (BERNSTEIN, 1983). No entanto, percebe-se em muitos casos que o sistema educacional tem deixado de considerar, de forma séria e sistemática, a relação entre as experiências anteriores do aluno e as medidas educacionais que lhe permitam aprender com sucesso. Porém, é possível notar diferenças qualitativas e mesmo quantitativas entre os países e as escolas que possuem. Se em uma mesma cultura ou país, as crianças sofrem com o processo de adaptação a uma nova realidade e rotina escolares, quando a criança muda de uma cultura ou de um país para outro, estas dificuldades ficam ainda mais evidentes e complicadas para serem trabalhadas.

Desenvolvimento Humano: a aprendizagem e suas dificuldades entre os seis e doze anos de idade.

O campo do desenvolvimento humano focaliza o estudo científico de como as pessoas mudam, e também de como ficam iguais, desde a concepção até a morte. No decorrer do processo de desenvolvimento, a presença de mudanças ocorre em muitos aspectos do eu. A forma como o desenvolvimento ocorre varia de pessoa a pessoa e não apenas a velocidade, mas também os resultados do desenvolvimento variam tanto no decorrer da vida de um mesmo indivíduo, quanto faz-se comparações entre diferentes pessoas. O próprio processo de desenvolvimento requer um processo de aprendizagem, sendo esta definida por Catania (1999) como sendo a capacidade de produção de uma mudança relativamente permanente no comportamento, resultante da experiência. Neste sentido a aprendizagem pode envolver ações e palavras além de significar coisas diferentes, em diferentes momentos para pessoas diferentes. No entanto o um organismo é mais do que aquilo que pode ser visto em seu comportamento e neste sentido é importante entender processos maturacionais que fazem parte do desenvolvimento humanos para se entender os processos biopsicossociais que são importantes para auxiliar o organismo humano na aquisição gradual de novos conhecimentos.

As teorias que tratam também sobre o desenvolvimento humano, variam conforme o momento histórico, a cultura e os autores. Papalia e Olds (2000) o curso de vida normal de uma pessoa poderia ter oito estágios distintos indo desde o primeiro estágio chamado de Pré-Natal até a Terceira Idade (após 65 anos em diante). O período da infância, que vai do nascimento até aproximadamente os doze anos, pode ser sub-dividida em três fases distintas: a Primeira Infância ( do nascimento até os três anos), a Segunda Infância ( dos 3 aos 6 anos) e a Terceira Infância que vai dos 6 aos 12 anos de idade.

Na terceira infância, é possível ver uma quantidade significativa de processos de desenvolvimento que ocorrem. Corporalmente, nesta fase percebe-se que o crescimento físico diminui um pouco, sendo retomado com maior velocidade próximo ao fim desta fase. Além disso a força e as habilidades físicas diminuem. O egocentrismo diminui, as crianças passam a pensar com certa lógica, embora predominantemente concreta. Observa-se um aumento nas capacidades de memória e habilidades de linguagem e com estes e outros ganhos cognitivos, a capacidade de tirar proveito da educação formal sofre ganhos significativos. A própria auto-imagem se desenvolve, afetando a auto-estima e nesta fase os amigos assumem uma importância fundamental.

Também sobre esta fase, assim como no decorrer de outras, há vários estudiosos que formularam importantes teorias para explicar, como e o motivo de cada uma das alterações que o indivíduo sofre. Para Piaget, neste período, a criança encontra-se em fase chamada de Operações Concretas (sete a 12 anos). Nesta fase, a criança pode ser capaz de resolver problemas de maneira lógica se elas estiverem voltadas ao aqui e agora. Para Erikson, esta etapa é denominada de Produtividade versus Inferioridade (seis à puberdade). Nesta fase, a criança deve aprender as habilidades da cultura ou enfrentar sentimentos de inferioridade, sendo uma fase em que se exige da criança um processo de ganhos de habilidade. Para Freud, esta fase é denominada de latência (seis à puberdade) e caracteriza-se por ser uma época de relativa calma entre os estágios fálico (três a seis anos) e genital(puberdade à idade adulta). Há outros teóricos que também desenvolveram estudos relativos a esta faixa etária e que trouxeram importantes contribuições para o entendimento da mesma, como Henri Wallon, Lev Vygotsky, Jerome Bruner, entre vários outros.

Nota-se que as teorias, tanto nesta faixa etária entre os seis e doze anos focam-se tanto nos aspectos do desenvolvimento físico, cognitivo, desenvolvimento da linguagem e desenvolvimento da competência social e cognitiva.

As crianças entre sete e 12 anos, podem realizar muitas tarefas num nível muito mais alto do que no estágio anterior. Piaget e outros pesquisadores testaram a compreensão das crianças quanto a Conservação (a capacidade de reconhecer que a quantidade de alguma coisa permanece igual mesmo que o material seja reorganizado, contanto que nada seja adicionado ou retirado), a Classificação (capacidade de organizar e categorizar), distinção entre fantasia e realidade e o próprio julgamento moral que segundo Piaget, está ligado ao desenvolvimento cognitivo (PAPALIA; OLDS, 2000). Nesta fase ocorrem importantes melhorias que são gradativas em aspectos específicos do desenvolvimento cognitivo e algumas dessas melhorias podem provir do aprendizado. Assim, se a criança tem alguma dificuldade de aprendizagem nesta fase, é importante que seja avaliada a relação existente entre a forma como aprende a as estruturas cognitivas que possui para que o conhecimento possa ser adquirido. A aprendizagem implica receber, armazenar e integrar informações que poderão ser utilizadas para modificar o próprio indivíduo e seu meio.” (FUNAYAMA, 2000) A aprendizagem caracteriza-se como um processo que integra o pensar, o sentir, o falar e o agir sendo que as rupturas e inibições neste processo implicam em dificuldades.” (LINHARES, 2000).

No entanto quando a aprendizagem não ocorre de forma satisfatória, ou quando há fatores que interferem de forma negativa neste processo, é possível conceber a idéia da existência de dificuldades de aprendizagem. O insucesso em aprender, pode estar vinculado a dificuldades na área cognitiva da criança e utiliza informações para resolver questões e problemas relativos à aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem podem ser:

(1) De ordem especificamente escolar;
(2) Decorrentes do potencial intelectual da criança;
(3) De um comprometimento da personalidade ainda em evolução, associado a um conflito psíquico;
(4) Por razões sociais que variam desde a falta de continuidade de ensino, troca de professores, classes cheias;
(5) Outros distúrbios: desatenção, hiperatividade, dificuldade de conduta.

O termo dificuldade está mais relacionado à problemas de ordem psicopedagógica e/ou sócio-culturais. Ou seja, o problema não está centrado apenas no aluno, mas no meio no qual está inserido. Desta maneira, ao se pensar sobre dificuldades de aprendizagem, é necessário tentar compreender que as dificuldades podem ser decorrentes de várias esferas, sejam elas, social, familiar e escolar.

O surgimento da Linguagem Escrita

Desde cedo, a criança é capaz de produzir textos e interpretá-los, como também é capaz de interpretar o texto que é falado pelos adultos.

A criança em seu processo natural de desenvolvimento, esboça uma escrita que no início somente é inteligível para si mesma. Neste início há muito o processo de imitar o o ato de escrever, no entanto interpretar a escrita produzida é outra coisa. No começo da interpretação da própria escrita, a criança pode acompanhar seus desenhos de outros sinais que representam seu próprio nome.

Teberosky caracteriza que pesquisas feitas com crianças de 4 a 6 anos é possível encontrar cinco níveis sucessivos e ordenados do surgimento da escrita e compreensão da mesma.
O primeiro e segundo níveis, caracteriza o escrever como um processo de reproduzir os traços típicos da escrita que a criança identifica como a forma básica da mesma. Neste nível a intenção subjetiva do escritor conta mais que as diferenças objetivas no resultado. Ou seja, todas as escritas se assemelham entre si, o que não impede que a criança as considere como diferentes.
A hipótese central deste nível é que para poder ler coisas diferentes, deve haver uma diferença objetiva nas escritas. O progresso gráfico mais evidente é que a forma dos grafismos é mais definida, mais próxima à das letras.

O terceiro nível está caracterizado pela tentativa de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem uma escrita. Neste processo, a criança passa por um período importante no entendimento de que cada letra vale por uma sílaba. É o surgimento do que se chama de hipótese silábica e com esta hipótese, a criança dá um salto qualitativo com respeito aos níveis precedentes. Esta mudança consiste em que ocorre a superação da etapa de uma correspondência global entre a forma escrita e e a expressão oral atribuída, para passar a uma correspondência entre partes do texto e partes da expressão oral. Pela primeira vez a criança trabalha claramente com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala. Nesta etapa também é possível notar um conflito cognitivo no que diz respeito ao conflito entre a quantidade mínima de caracteres e a hipótese silábica, o problema é que com a hipótese silábica, a criança está obrigada a escrever somente duas grafias para as palavras dissílabas, e o problema é ainda mais grave quando se trata de substantivos monossílabos.

O nível 4 é caracterizado pela passagem da hipótese silábica para a alfabética. A interpretação deste momento é que a criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de fazer uma análise que vá “mais além” da sílaba pelo conflito entre a hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de granas e o conflito entre as formas gráficas que o meio lhe propõe e a leitura dessas formas em termos de hipótese silábica.

O nível 5 a escrita alfabética constitui o final desta evolução, ao chegar neste nível a criança compreendeu que cada um dos caracteres dá escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba e realiza sistematicamente uma análise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever.

Foi observado que a criança que foi nosso objeto de estudo está no nível 3, ou seja no nível da hipótese silábica. No entanto, na idade em que a mesma se encontra, ela deveria estar pelo menos entre o nível 4 e 5. Não se sabe ainda ou não foram formuladas explicações para explicar tal evento.

Adaptação Cultural e dificuldades de aprendizagem

A criança, em qualquer faixa etária é sensível a mudanças em sua vida diária. O processo de desenvolvimento implica em mudanças graduais ao longo do tempo e que ocorrem de modo a fornecer recursos para a criança se adaptar à exigências do meio em que vive. Retomando ao conceito de cultura segundo Laraia (2004), o homem vê o mundo por meio da cultura na qual vive e é criado.

Com a criança, ocorre também este processo. A cultura lhe fornece recursos para agir e se comunicar de forma a inserir-se até mesmo para manter o processo cultural vigente. Devido a isto que os mecanismos de propagação e transmissão cultural devem ser coesos e coerentes para que o próprio processo de desenvolvimento da criança não seja prejudicado. Para Bruner (1997), o desenvolvimento humano deveria ser visto como algo que não está apenas dentro do indivíduo, mas também na sua relação com o mundo que o rodeia, pois o homem é parte da cultura que herda e pode, a partir de suas intervenções nela, recriar essa cultura. Ainda segundo este autor, o desenvolvimento intelectual da criança não é uma seqüência regular e infalível de acontecimentos, mas a criança reage também às influências do ambiente, sobretudo ao ambiente escolar. Quando a criança muda de escola, ocorre uma influência deste fato no processo de desenvolvimento intelectual da criança e se esta mudança ocorre de forma drástica ou de um país para outro, as dificuldades podem aparecer, inicialmente como dificuldades de adaptação tais como perturbação emocional, stress, perda de interesse pela escola, entre outros.
Segundo Bruner (1997), o desenvolvimento humano está permeado pelo papel da cultura e da interação social e, também, pelas influências da biologia e da evolução. A linguagem, tem neste processo um papel crucial, visto ser fator importante para a comunicação e pela instrução no desenvolvimento do conhecimento e da compreensão. Descobrir o mundo, dentro de uma perspectiva cultural é poder interagir com os outros. Se há rupturas ou quebras físicas e ambientais neste processo pode ocorrer o mesmo com aspectos psicológicos e intelectuais da criança, visto que ao sofrer mudança, pode ser possível que ela tenha que reaprender toda a leitura de mundo que ela fazia a partir daquelas interações com o outro.


Referências Bibliográficas:

BERNSTEIN, B. Estrutura Social, linguagem e aprendizagem. In.: PATTO, M. H. S. (org). Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo. Ed.: T. A. Queiroz, 1983. 420p.

BRUNER, J. Realidade mental, mundos possíveis. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

CATANIA, A. C. Aprendizagem: Comportamento, Linguagem e Cognição. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. 300p.

FUNAYAMA, C. A. R. (org). Problemas de aprendizagem- Enfoque multidisciplinar. Campinas, São Paulo: Editora Alínea, 2000. 146p.

HESS, R. D.; SHIPMAN, V.C. Experiências de vida e a socialização de estilos cognitivos em crianças. In.: PATTO, M. H. S. (org). Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo. Ed.: T. A. Queiroz, 1983. 420p.

LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. 17a ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. 117p.

LINHARES, M. B. M. Avaliação psicológica de aspectos cognitivos em crianças com queixa de dificuldade de aprendizagem. In.: FUNAYAMA, C. A. R. (org). Problemas de aprendizagem- Enfoque multidisciplinar. Campinas, SP: Editora Alínea, 2000. 146p.

LOUREIRO, S. R. Aprendizagem escolar: avaliação de aspectos afetivos. In.: FUNAYAMA, C. A. R. (org). Problemas de aprendizagem- Enfoque multidisciplinar. Campinas, São Paulo: Editora Alínea, 2000. 146p.

PAPALIA, D.E.; OLDS, S.W. Desenvolvimento Humano. 7ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 684p.

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