Se você é daqueles que sua em bicas porque vai falar em público, ou então participar de uma reunião importante, não se preocupe. Muito mais comum do que se imagina, a transpiração em excesso é um distúrbio causado por fatores psicológicos ou orgânicos, mas tem so
lução. Muitas vezes, simples mudanças no cotidiano ajudam a amenizar o incômodo. Outra alternativa, dependendo da causa, pode ser a intervenção cirúrgica.
Conhecida como hiper-hidrose localizada, o excesso de transpiração — em especial nas axilas, palmas das mãos e plantas dos pés — incomoda bastante, mas não é caracterizado como doença. “Neuro-hormônios, como o cortisol, secretados em situações de estresse e ansiedade, interferem no funcionamento das glândulas sudoríparas écrinas (localizadas em toda a derme, com saída pelos poros) e apócrinas (que existem principalmente nas axilas e virilhas, e que excretam suor pelo folículo pilossebáceo), aumentando a transpiração, independente da temperatura externa”, explica a dermatologista Denise Steiner, presidente da Comissão de Ensino da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Regional de SP. É o famoso ‘suor frio’. A pessoa pode transpirar muito nas mãos e pés ou apenas nas axilas ou na testa, conforme a predisposição orgânica.
Quem tem tendência genética à hiper- hidrose localizada costuma perceber o problema já na adolescência. “O aumento da produção dos hormônios sexuais durante a puberdade estimula a sudorese nas axilas e na região genital, o que pode determinar uma mudança súbita do odor nestas áreas e manchar as roupas”, explica Rogério Silicani Ribeiro, especialista em Endocrinologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e pós-graduando na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Apenas 1% dos casos tem causa específicaDa mesma forma que a hiper-hidrose localizada, a generalizada, que produz um aumento da transpiração no corpo todo, também pode decorrer de situações de ansiedade e nervosismo, quando o sistema nervoso estimula as glândulas sudoríparas écrinas. “É possível, ainda, ser conseqüência de doenças que ativam o sistema nervoso simpático (hipertensão, por exemplo) ou infecções, problemas pulmonares, cardíacos e metabólicos como o diabetes”, diz Ribeiro. “Em algumas doenças metabólicas, como o hipertireoidismo ou a hipoglicemia, a sudorese excessiva pode ser o único sintoma percebido pelo paciente”.
Daí a necessidade de se procurar um especialista para investigar a origem do problema. Durante a consulta, é importante que o médico saiba quando começou, se a pessoa tem diabetes ou qualquer outra doença que pode estar associada ao excesso de suor. “Geralmente, apenas 1% dos casos tem uma causa específica. Muitas vezes pode ser apenas conseqüência de um quadro de estresse, dos calores da menopausa ou da ingestão de algum medicamento”, esclarece Steiner. “Se você sofre com a transpiração excessiva desde a infância ou adolescência, provavelmente é caso de predisposição individual”, avalia.
Ambientes ventilados, mais conforto
Embora a hiper-hidrose incomode até nos dias frios, é no calor que o desconforto piora. Sempre que a temperatura ambiente ou a do corpo (pela prática de atividades físicas, por exemplo) se eleva, a reação do organismo é eliminar o calor através da transpiração, que umedece e refresca a pele, diminuindo a temperatura corporal. Ambientes ventilados, roupas claras (que não retêm o calor) e fabricadas com tecidos leves, que absorvem o suor, podem não resolver, mas ao menos reduzem o desconforto. “Isso é verdadeiro principalmente para pessoas que moram em regiões de clima mais úmido, o que dificulta a evaporação do suor”, diz Ribeiro.
CAMINHOS DO SUOR
O suor é produzido pelas glândulas sudoríparas — que estão distribuídas por toda a extensão da pele e se situam na sua camada mais profunda, a derme. São semelhantes a um minúsculo novelinho de lã, de onde parte o túbulo, um canal que desemboca na superfície cutânea. “Todos chamam a saída do pêlo de poro, mas o termo é inadequado — o correto é óstio. O poro verdadeiro, que é a saída da glândula sudorípara, não é visível a olho nu”, explica Denise Steiner. Existem dois tipos de glândulas sudoríparas: a écrina, que se liga diretamente ao poro, e a apócrina, reponsável pelo suor das axilas e virilhas, por exemplo, e que desemboca no folículo pilossebáceo.
OS PONTOS-CHAVE
A pele é responsável por estabelecer o limite entre nosso corpo e o meio externo. Entre as diversas funções vitais que exerce estão a regulação térmica, defesa orgânica, controle do fluxo sangüíneo e funções sensoriais — calor, frio, tato, pressão e dor. É na pele, mais precisamente na derme (sua camada mais profunda) que estão localizadas as glândulas sudoríparas: as écrinas, mais numerosas e distribuídas por todo o corpo, permitem a produção do suor e sua saída diretamente pela pele. Elas produzem o suor nas mãos e nos pés, por exemplo. As apócrinas, existentes principalmente nas axilas, virilhas e regiões com mais pêlos, produzem o suor com odor característico, quando a sua secreção, que é eliminada pelo folículo pilossebáceo, sofre decomposição por bactérias.
Providências simples às vezes resolvemVeja algumas dicas sugeridas pela dermatologista Denise Steiner.
· Manter a virilha e as axilas depiladas ajuda a evaporar o suor e a diminuir o odor causado pelas bactérias, cuja proliferação é favorecida pela umidade retida nos pêlos.
· Se o desodorante provocar alergia, saiba que o processo inflamatório responsável por esta reação agrava a sudorese. Troque de marca ou escolha um à base de substâncias neutras.
· Compressas com chá preto ajudam a diminuir o suor, graças à presença de ácido tânico, que desacelera a produção da glândula sudorípara.
· Desodorantes antiperspirantes obstruem os ductos das glândulas sudoríparas, reduzindo a produção de suor.
· Se o que mais incomoda é o odor da transpiração, causado pelas bactérias, use desodorantes que contenham bactericidas em sua formulação.
· Existem no mercado aparelhos portáteis de ionização, que inibem o funcionamento das glândulas sudoríparas. Durante os 10 primeiros dias é recomendável usar o aparelho duas vezes por dia. Depois dessa fase, bastam apenas duas aplicações semanais.
Se mesmo assim o problema persite, há as soluções terapêuticas, como as aplicações de toxina botulínica. Essa substância inibe a produção de acetilcolina, neurotransmissor necessário para acionar o mecanismo da transpiração, explica Steiner. É injetada pelo médico na camada superficial da pele em toda a área a ser tratada. Não há contra-indicações ou efeitos colaterais, a não ser discretos hematomas. A aplicação na axila é tranqüila, já no caso das mãos e dos pés há a necessidade de anestesia local para suportar a dor. Os efeitos duram cerca de sete meses. Passado este prazo, faz-se uma nova aplicação.
Uma outra opção, diz Ribeiro, é cirúrgica. “Secciona-se o nervo responsável pela ativação do sistema nervoso simpático, que estimula a sudorese, de modo a controlar os sintomas. Mas uma pequena porcentagem dos pacientes pode apresentar efeito compensatório — ou seja, o corpo transferir a transpiração para outras áreas, como coxas e nádegas”.
Fonte http://revistavivasaude.uol.com.br/Edicoes/56/artigo67922-2.asp