Evidências epidemiológicas já indicavam que, do ponto de vista clínico, pacientes com Alzheimer têm maior tendência a apresentar diabete tipo 2.A neurocientista Fernanda De Felice, durante estágio na Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, descobriu que os receptores do hormônio insulina nos neurônios são perdidos em pacientes de Alzheimer.
Reunindo cientistas brasileiros e americanos, a proposta foi de tratar neurônios afetados pelo Alzheimer com uma combinação de insulina e rosiglitazona, substância habitualmente empregada para tratar pacientes de diabete tipo 2.
Testes de laboratório mostraram que a experiência, feita com células cerebrais em cultura, efetivamente evita a progressão dos efeitos degenerativos da doença.
"Antigamente, acreditava-se que o cérebro não precisava de insulina para seu funcionamento. A descoberta de Fernanda confirma exatamente o contrário. Além de contribuir para o processo de obtenção de energia para que o cérebro funcione, a insulina também desempenha um papel importante na formação da memória" explica Sérgio Ferreira, Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, e um dos coordenadores da pesquisa 'Oligômeros protéicos solúveis como neurotoxinas e novos alvos terapêuticos nas doenças amiloidogênicas humanas'.
“A aplicação de insulina da forma usual nos traz dois problemas: pode-se levar os pacientes a um desequilíbrio na glicemia. Sabemos também que, com o uso continuado, diabéticos do tipo 2 acabam ficando com a barreira hematoencefálica - que protege o cérebro e, em geral, é razoavelmente permeável à insulina - cada vez mais resistente a esse hormônio" explica.
Essa resistência agravaria a situação dos neurônios, afetados pela ação dos oligômeros. A equipe também está testando outras substâncias de ação semelhante.
Segundo estimativas recentes, há cerca de um milhão e duzentos mil brasileiros com Alzheimer. A vida média dessas pessoas em geral gira em torno de oito a dez anos depois do diagnóstico.
Atualmente, esses pacientes contam com apenas dois tipos de medicamentos: os inibidores de acetilcolinerastase e a memantina para tratamento. Mas nenhum dos dois realmente funciona. Com a nossa pesquisa, abre-se uma grande porta para o desenvolvimento de novos medicamentos, com possibilidade de alterar o curso da doença. As perspectivas são bastante promissoras.


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